Eduardo Ramos
Em 2022, muitos são os motivos para ficar de olho na competição. É a primeira edição a ser realizada no Oriente Médio, a primeira no que chamamos de “fora de época” e, no Brasil, a primeira logo após um período de eleições presidenciais. Todos esses fatores têm seus prós e contras, além de diferentes impactos nos mais variados setores da sociedade.
A depender das crianças do Bairro Itararé, a paixão pelo futebol arte do Brasil segue firme, independentemente de outros fatores. É nas cores verde, amarela, azul e branco que são depositadas esperanças não apenas de vitórias, mas de dias melhores e de realizações. Pois é entre as quatro linhas do campo que podem surgir novos ídolos, e é nos estádios que podem surgir exemplos de empatia e humanidade.
Toda Copa do Mundo deixa histórias. Lembranças que profissionais ligados à área esportiva carregam em suas carreiras e que transformaram vidas.
E para guardar lembranças desse evento, até os pets entram no jogo. Afinal, quem não quer guardar um registro desse momento ao lado de um torcedor tão especial?
Seja fora de época, em uma terra para muitos desconhecida, seja entre disputas políticas e econômicas, a Copa do Mundo está aí, para ser acompanhada, vivida e sentida!
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Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Se, nas ruas, a decoração e a movimentação para a Copa são tímidas, em outros setores, não é diferente. O Diário publicou, recentemente, que a animação no comércio, ao menos em Santa Maria, não parece ser tão grande comparada às edições passadas da Copa. O clima entre os torcedores também não é dos mais eufóricos, e são várias as possíveis razões para essa apatia. Um deles pode ser o período de eleições em outubro, que deixou o país ainda mais polarizado.
Somado a isso, grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) usaram símbolos nacionais como a bandeira e a camiseta da Seleção Canarinho. O professor João Malaia, do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), avalia que o uso das cores verde e amarelo começou em 2013, com as manifestações pela redução das passagens de ônibus em São Paulo:
– Elas passaram a ser ocupadas por esses setores conservadores. A camisa da Seleção apareceu como um símbolo daqueles que clamavam por manifestações “sem partido” e, rapidamente, acabou refletindo todo o discurso nacionalista desses setores. A radicalização desses movimentos em frente a quartéis causa incômodo em quem não quer se identificar com esse tipo de posicionamento.
Malaia acrescenta que as eleições podem não ter afastado a torcida, mas sim a associação com a amarelinha. Segundo o psicólogo Vinícius Geissler, que atua na área da psicologia do esporte, o Mundial deste ano é um ritual fora de época:
– A população está acostumada a ver a Copa na metade do ano, e não no final, quando já está com as atenções voltadas às festas de Natal e de Réveillon.
Outro fator levantado por ele é o carisma da seleção brasileira e a falta de jogadores que atuam no Brasil, e até mesmo na dupla Gre-Nal.
– Os jogadores que se destacam saem muito cedo do país e vão para a Europa. Temos o goleiro Alisson, que jogou pelo Inter e, hoje, está no Liverpool, da Inglaterra. Porém, ele não tem o mesmo carinho que tínhamos pelo Taffarel, por exemplo, que era muito querido pelos gaúchos – avalia o psicólogo.
O sonho de quem já viveu a copa
Assistir de perto a um dos maiores eventos esportivos do planeta como a Copa do Mundo é um sonho para os apaixonados por futebol. Sair da frente da TV para viver a atmosfera de um estádio lotado ou de uma cidade-sede em dia de jogo, sem dúvidas, é uma experiência memorável para aqueles que já tiveram essa oportunidade. É o caso da jornalista Thaise Moreira e do fotógrafo Fernando Ramos, que estiveram no Mundial de 2006, na Alemanha.
A dupla passou 20 dias no continente Europeu em uma empreitada do Diário que acompanharia a viagem de oito santa-marienses durante a Copa. Diretamente de algumas das cidades-sedes visitadas – Berlim, Munique, Frankfurt, Stuttgart, Dortmund e Nuremberg –, Thaise escrevia quais eram as percepções dos brasileiros antes e depois dos jogos e, no intervalo entre uma partida e outra, também buscava curiosidades e demais assuntos que renderam matérias para as edições do jornal, como uma visita ao museu da Mercedes-Benz, em Stuttgart, e as ciclovias alemãs.
Conforme Thaise, eles viajaram para a Alemanha em 22 de junho, o mesmo dia em que o Brasil goleou o Japão por 4 a 1, na última rodada do Grupo F.
A viagem
Uma vez no velho continente, a então editora de Esportes e o então editor de fotografia do Diário se instalaram em Stuttgart e viajavam de trem para as demais cidades que receberam os jogos. Eles puderam presenciar o mata-mata da competição, em que a seleção verde e amarelo enfrentou Gana nas oitavas de final. A partida ocorreu no Signal Iduna Park, em Dortmund.
– O primeiro jogo que assistimos, fora do estádio, na Fun Fest, o Brasil venceu por 3 a 0. E o curioso é que, mesmo eliminados, os ganeses não deixaram de celebrar. Eles gostam do Brasil e são um dos povos mais felizes com o futebol – lembra Thaise.
O carisma pelo Brasil foi visto até mesmo nos últimos rivais à época, a seleção alemã, que havia sido derrotada pelos brasileiros na final do último Mundial por 2 a 0. Fernando recorda que os anfitriões também torceram pela Seleção Canarinho:
– Eu vi alemães chorando quando perdemos de 1 a 0 para a França nas quartas de final, e isso mostra o quanto somos queridos lá fora.
O fotógrafo conta que uma das melhores imagens que capturou foi da seleção alemã no hotel. O goleiro Oliver Kahn, um dos grandes nomes da equipe, foi registrado pelas lentes da câmera de Fernando, mas o envio deste e de outros materiais não foi nada fácil:
– Foi gratificante e desafiador conviver com o ambiente de uma Copa do Mundo. Nós levamos um notebook, mas ele não funcionou. Então, tivemos que ir em lan houses para mandar por e-mail as fotos ao jornal. Mesmo com o fuso horário a nosso favor, quatro horas à frente do horário de Brasília, como demorava muito e não tínhamos tanto tempo, eu enviava poucas fotos por vez.
De acordo com Thaise, em termos pessoais e profissionais, a experiência foi fantástica, e ela pretende ir mais uma vez a uma Copa do Mundo.
– Foi uma vivência que levarei pra sempre. No nosso caso, que fomos a trabalho, é um sonho de todo profissional da área do esporte. É um clima sem igual, onde toda uma cidade respira futebol. Fomos muito bem recebidos pelos alemães e ainda fizemos amigos de todos os cantos. Por anos, eu e o Fernando recebíamos cartões de aniversário enviados por um sul-africano que conhecemos – afirma.
Mesmo depois da eliminação precoce da Seleção, que era tida como uma das favoritas ao título, a dupla permaneceu na Alemanha até meados de 14 de julho.
Perrengues
A viagem de volta não foi nada fácil. Com a passagem de volta comprada desde antes da viagem de ida, os jornalistas não esperavam que a Viação Aérea Rio-Grandense (Varig) fosse iniciar o processo de decretar falência justo há poucos dias do voo que os traria de volta ao Brasil. Os voos foram cancelados e eles tiveram que viajar de trem a Lisboa, Portugal, para, de lá, viajar com a Tap Air Portugal para o nosso país. Chegando aqui, ainda tiveram que enfrentar conexões que passaram por Fortaleza e Brasília, até chegarem ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Um outro avião os levou a Porto Alegre e, de ônibus, finalmente chegaram ao Coração do Rio Grande.
– Foram mais de dois dias nessa viagem por conta de todos esses problemas que enfrentamos. Até em chão de aeroporto nós dormimos – lembra Thaise Moreira.